Síndrome de Asperger e TI: um amor antigo

por: Rafael Szarblewski | 03/01/2017

Hans Asperger foi um pediatra austríaco que conduziu algumas pesquisas com um grupo ao qual denominava “pequenos professores”, crianças cuja memória, foco intenso e habilidades para pensamento lógico eram tão impressionantes quanto suas dificuldades em interação social e inteligência emocional. A síndrome de Asperger (que agora está oficialmente incluída no espectro autista) é muito mais comum do que se imagina; você provavelmente conhece alguém que é Aspie ou convive com alguém que tem um familiar, amigo, namorado que é. Um bom exemplo da cultura pop de personagens que tem muitas caracteristicas de autismo leve, ou Asperger, seriam o Dr Sheldon Cooper, de The Big Bang Theory e o grupo de gênios do time de Walter, em Scorpion.

Apesar de muito mais comum em homens (a cada seis autistas diagnosticados, cinco são meninos), mulheres também podem estar no espectro. É importante esclarecer o porquê da denominação Transtorno do Espectro Autista: pense no autismo como um espectro de cores: digamos o azul, que é sua cor símbolo. Os tons vão do azul mais claro (níveis mais leves de autismo, com pouco ou quase nenhum comprometimento cognitivo – Asperger) até os mais escuros (casos mais severos, muitas vezes com ausência total da fala e presença de retardo mental e outras comorbidades).

Símbolo da diversidade no espectro autista assim como do movimento neurodiverso como um todo

O autismo pode ser evidente: aquela pessoa com características mais marcantes, que geralmente é evitada por ser “esquisita” ou “meio maluca”, ou mais sutil, como no caso daquele amigo que lembra TODAS as falas do Rei Leão, mas que tem uma dificuldade imensa de começar uma conversa no whatsapp. Como, então, identificar um autista leve (Aspie)? Não existem dois autistas iguais – cada um é único em suas peculiaridades, mas geralmente eles tem algumas características em comum, como por exemplo:

 

  • Foco intenso – tendem a se concentrar muito em determinados assuntos ; os interesses são variados: pode ser um jogo, fatos históricos, um instrumento musical, linguagens de programação, etc.;
  • Dificuldade de interação social – inicialmente costumam parecer distantes e indiferentes, muitas vezes devido ao fato de não saber como falar sobre suas emoções ou entender as emoções dos outros; costumam ter muita dificuldade em compreender regras sociais e expressões faciais, o que pode tornar complicado fazer amizades e iniciar relacionamentos amorosos;
  • Comunicação diferenciada – pessoas com sindrome de Asperger utilizam um vocabulário rebuscado, com palavras pouco usuais e costumam soar muito mais velhas do que de fato são. Muitos também possuem algum nível de ecolalia (repetir frases de filmes, séries e afins, ou até mesmo repetir orientações dadas imediatamente após ouvi-las), o que muitas vezes soa estranho e pode incomodar algumas pessoas mais avessas à repetição.

 

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Em seu livro The Geek Syndrome, Steve Silberman, correspondente da americana Wired Magazine, fala especificamente sobre o impressionante aumento de crianças diagnosticadas como autistas leves no Vale do Silício. Ele apresenta algumas teorias sobre os motivos. A mais famosa seria aquela que afirma que o ambiente de pensamento lógico, onde pessoas inteligentes migram do mundo inteiro para trabalhar em suas paixões, é naturalmente atraente para Aspies. Sendo o autismo genético (uma das muitas teorias sobre o que é, de fato, o autismo), é natural que conforme esses engenheiros, desenvolvedores e afins, tenham filhos, nasçam cada vez mais crianças dentro do espectro.

Silberman é também um dos grandes defensores do movimento da neurodiversidade que, resumindo brevemente, trata-se do pensamento de que o cérebro autista é diferente, não doente. Que ser autista não é uma condição a ser tratada ou revertida, mas sim natural e que deve ser respeitada e valorizada como tal. Em se tratando de tecnologia da informação, é notório o excelente desempenho dos autistas. Como mencionado anteriormente, não é à toa que o Vale do Sílicio está cheio deles. Foco, paixão por aprender cada vez mais, atenção aos detalhes são algumas das características que fazem dos Aspies partes valiosas dos times de desenvolvimento do Vale do Silício. Muitos observadores, inclusive, afirmam que o próprio Bill Gates apresenta muitos traços de autismo.

O mais interessante nessa relação autismo – tecnologia da informação são as grandes vantagens para ambos os lados. Empresas que possuem uma cultura de respeito e compreensão da diversidade e oferecem ambientes adaptáveis e favoráveis às características individuais acabam por ter excelentes resultados na contratação de Aspies. Essas adaptações sempre dependem da necessidade e das características de cada um, mas podem incluir aspectos como salas mais silenciosas, liberação do uso de fones de ouvido no ambiente de trabalho e, principalmente, entender e aceitar as “manias”; muitos autistas tem objetos aos quais são muito apegados (pode ser uma caneca de café, um mouse, uma cadeira) e rotinas rígidas (almoçar sempre no mesmo lugar, no mesmo horário, por exemplo). É importante lembrar de nunca sobrecarregar as pessoas no espectro com tentativas de “enturmá-los”. Mostre que está aberto e interessado, mas não force conversas, não imponha sua presença e nem a presença dos outros. Nem sempre formar uma equipe com aquele programador mais conversador e o analista mais fechado, na dele, para equilibrar, é uma boa ideia.

Como em qualquer situação de formação de equipe, com os Aspies também é preciso tato e sensibilidade para reconhecer os pontos fortes e fracos de cada um. A verdade é, contudo, que esse processo pode ser enriquecedor para todas as partes: para a equipe que acaba tendo uma pessoa centrada, focada, com facilidade em traçar objetivos, buscar soluções novas, por mais tempo de pesquisa e dedicação que isso exija e para o Aspie, que ganha experiência em socialização e valorização das suas habilidades e interesses especiais.

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